
Em O Feitiço do Tempo, Phil Connors (Bill
Muray) é um egocêntrico meteorologista de um pequeno canal televisivo de Pittsburgh.
Phil encara com desdém a cobertura jornalística de um eventual anual na cidade
de Punxsutawney, na Pensilvânia, onde a tradição ordena que uma marmota preveja
o fim do Inverno. Relutante, Phil desloca-se para Punxsutawney com a sua nova
produtora, Rita (Andie MacDowell), e com o seu habitual cameraman, Larry (Chris
Elliott). Feita a reportagem, Phil procura regressar rapidamente a casa.
Todavia, uma tempestade de neve retém-no e à sua equipa em Punxsutawney. O que
Phil não conta, no entanto, é repetir o mesmíssimo dia incontáveis vezes.
O Feitiço do Tempo, não obstante a
rotação cómica e romântica, desdobra perante o espectador um espelho
tentativamente introspectivo. Será que cada um de nós procura ser o melhor de
si nas vastas acções e decisões do dia-a-dia, ou será que, como Phil, cedemos à
impaciência rotinizada? Será esta, de maneira aproximada, a questão que o
realizador Harold Ramis, em colaboração com o argumentista Danny Rubin,
pretende colocar à sua audiência com toda a justa pertinência. A jornada de
Phil ao longo das incontáveis repetições diárias (constam ter sido na ordem dos
10.000 anos) é um extraordinário turbilhão psicológico de euforias e
depressões, paixões e desilusões, que representam vicissitudes do dia-a-dia tão
próximas do espectador, intrinsecamente familiares às suas próprias vivências.
Phil vive num único dia, embora as quase ilimitadas repetições, o que cada um
de nós sente de forma empírica pela sua vida inteira. O feitiço, por assim
dizer, é o mesmo; depende de cada qual empregá-lo pelo mais certo.
Inicialmente,
perante a possibilidade de omnipotência e impunidade, Phil deixa-se levar pelo
entusiasmo e pela actuação a bel-prazer, representando o auge do homem que já
se mostrava ser. Até que ponto pode alguém permanecer leviano e indiferente?
Com o tempo, Phil compreende que o vazio dentro de si não pode ser unicamente
preenchido pelo prazer momentâneo e, a certa altura, com o aproximar de Rita,
imperceptível por ela, Phil sente necessidade por algo mais, algo que o tempo,
entenda-se, o mesmo dia, não lhe permite ter. Nessa fase, Phil desce à
depressão e à completa frustração e contempla o fim da vida; mas o mesmo
feitiço que antes tão bem o libertara das suas responsabilidades prende-o agora
ao seu infortúnio. Eventualmente, no vazio de soluções, para moralização do
espectador, Phil resolve dedicar todo o seu infindável tempo numa metamorfose
social para um homem útil, humilde e honesto.
A execução de
Harold Ramis por detrás da câmara é pragmática e regular, onde impera a
característica feel-good dos anos 90.
As actuações são identicamente ordinárias, sem destaques significativos. Aliás,
exceptuando uma inteligente montagem que ajuda a avançar e a dar sentido à
narrativa, toda a observância de O Feitiço
do Tempo é a de um filme trivial. Desengane-se quem assim considera. O Feitiço do Tempo, aos vinte anos, é um
clássico imperdível que engloba muito mais, e mais profundo, do que se lhe
possa outorgar.
CLASSIFICAÇÃO: IMPERDÍVEL
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